segunda-feira, 30 de agosto de 2010

OUTRA CULTURA :: Entrevista A. Morelli



Entrevista para revista LEVEL: Alexandre Morelli
por Manu Scarpa

Floripa foi seu ponto de partida para o mundo. Não apenas literalmente, mas também o mundo da arte, da poesia e da fotografia. Alexandre Morelli nasceu e cresceu em Florianópolis, mas atualmente mora na Califórnia, Estados Unidos. No total já são oito anos longe da Ilha, que será sempre a sua casa. Frequentador da praia da Joaquina e filho de um dos ídolos dos torcedores avaianos na década de 60 - o centro-avante Coronel Morelli -, Alexandre segue o movimento que ajudou a criar: Outra Cultura. Um artista que coloca seus sentimentos em tudo o que faz. Ama surfar e faz do oceano foco de suas lentes. Escreve seus pensamentos num papel para tentar mudar o mundo, porque acredita que cada um tem que fazer a sua parte. Em San Diego onde mora, Morelli conversou com a revista LEVEL sobre a arte que ajuda a divulgar seu movimento cultural. São desenhos exclusivos pintados a mão ao longo da madrugada. Você vai conhecer agora a história além dessas camisetas que, com muito estilo, refletem sua maneira de pensar.

Morelli fotografando em Windansea, San Diego CA

Como e quando começou a estampar camisetas?
Comecei a pintar camisetas com 13 anos de idade. Minha primeira marca se chamava "Crazy Wave". Fiquei anos sem pintar e há dois anos atrás essa idéia voltou na minha cabeça. Como eu tinha criado um movimento artístico chamado "Outra Cultura" alguns anos antes, percebi que poderia divulga-lo através das camisetas.

Qual material você usa?
Basicamente qualquer roupa de algodão, hemp ou bambu e tinta dimensional para tecidos.

O que te inspira para criar os desenhos?
Surf, música, pessoas, culturas, lugares, artistas... Bem dizer tudo que passa diante dos meus olhos e chama minha atenção por algum motivo.

Quais artistas te influenciam?
Pessoas me influenciam mais que artistas em si. Rodrigo Viegas, Dada Figueiredo, meu irmão mais novo Guto Morelli, Andre Negão (in memoriam), Break e Neco Padaratz são amigos que fazem parte dessa lista. Mas existem inúmeros artistas underground de alta qualidade que posso citar. Roy Gonzales, Andy Howell, Shepard Faire, Nathan Fletcher, Dustin Huphrey. A obra "Guernica" de Pablo Picasso, em especial, é muito inspiradora.

Você criou o movimento Outra Cultura? Como e onde surgiu?
Surgiu no comeco da decada de 2000 na California, e não sei bem porque. Acho que foi uma porta que eu abri para deixar aflorar novas idéias que estavam acumulando na minha cabeça. Foi quando, juntamente com Isabela Pinto, nasceu a idéia de fazer o livro "Transcendendo Estereotipos", que vai ser lancado em breve no Brasil com outro título.



O que é o movimento "Outra Cultura"?
O movimento Outra Cultura é uma rede de trabalho formada por agitadores globais. Artistas, surfistas, idealistas, neo-liberais, poetas, filósofos, clubbers, fotógrafos, viajantes. Nossa meta é abalar as estruturas e fazer com que a maioria re-pense sobre o jeito de viver nesse novo milênio. Nós queremos mudar a maneira como as informações circulam. Nós queremos paz. Queremos mudar o jeito de se alimentar, inventar moda. Mudar as agendas, eliminar rotinas. Acima de tudo, este movimento quer mudar o jeito que interagimos com os meios de comunicação de massa, e o que isso representa na nossa sociedade.

Como você define sua arte?
Anarquista dentro de um novo Renascimento. Ou algo como "Paxionismo".

Quem são os clientes?
Todas as pessoas para quem pintei uma camiseta são especiais para mim independente de ser famoso ou não. Neco Padaratz, Agobar Jr., Saulo e Xande Ribeiro, Xandinho Fontes, Guto Morelli, Guruba, Felipe Malta, Pinho Menezes, Manu Scaarpaa, Ana Vicente, meu afilhado Zion Padaratz, Marina Furlan, Andy Nakamura, Jeremy Black, Debora Serrano, Lorraine Medeiros, Ana Cardoso entre muitos outros.

O que voce começou a fazer primeiro: foto, poesia ou desenho? Em que sequência?
Comecei desenhando desde de que me dei conta que era gente. Com 3 anos de idade meus desenhos já impressionavam. Ganhei vários concursos quando ainda estava no primário. Na adolescência veio a poesia, e com 18 comecei a escrever um livro sobre uma maneira diferente de ver a vida. Depois comecei a filmar, filmava surf todos os dias na praia da Joaquina. Tenho muito material de varios surfistas profissionais no final da decada de 90, como Neco Padaratz, Guga Arruda, Rodrigo Viegas, Fabricio Machado, Marco Polo, Andreas Eduardo. Em 2001, quando me mudei pra California, comecei a fotografar inspirado pelo Neco - que na epoca me emprestou uma câmera Minolta com uma lente de 300mm. Desenhei também muitas tatuagens para várias pessoas e pintei telas para decoração de festas de música eletrônica.

Quem é Alexandre Morelli?
Um Zé Ninguém. Um louco que mau consegue viver em sociedade. Um artista/surfista da praia da Joaquina que saiu pelo mundo para ir atrás daquilo que não sabe bem o que é, mas sabe que é dele.

Por que Califórnia?
Boa pergunta. Nem eu sei. Acho que é meu destino. Eu morei na Nova Zelândia, Austrália e Indonésia antes de mudar para cá. Eu ouvia histórias, via nas revistas e filmes, mas acho que o maior incentivo foi quando meu grande amigo Break se mudou pra Califórnia.

Para você, qual a diferença entre Floripa e Califa?
O meu mundo parece ficar mais amplo na Califórnia. Mais oportunidades e mais acesso a tudo. Mas em Floripa é onde estão minhas raízes, onde eu nasci, cresci. Onde eu tenho meus imóveis. Onde eu tenho minha família e meus amigos. E isso é mais importante do que qualquer outra coisa no mundo.

Depois de oito anos longe de Floripa, qual é a sua impressão?
Muita saudade da Ilha, mas um receio de voltar e não encontrar aquilo que eu deixei para trás. Todo mundo que vem me visitar diz que já não é mais a mesma coisa, que a Ilha perdeu sua identidade.

Você tem um blog, como faz para alimentar seus leitores de Floripa e da Califa ao mesmo tempo?

Tenho seguidores no Brasil que reclamam quando escrevo em inglês. É difícil agradar todo mundo. Mesmo porque eu não faço o blog pra agradar ninguém. Já pensei em traduzir os textos, mas perde a essência.

Como fotógrafo, qual sua característica principal? O que gosta de fotografar?
Eu não gosto do mundo digital. Sou mais orgânico. Custe o que custar prefiro usar rolo de filme. Também não gosto muito do auxílio de flashes e tripés. Quanto mais cru, melhor. Fotografia é luz e cor. Se se o filme for preto e branco, é pura luz. Fotografar surf é posicionamento e concentração máxima. Eu gosto muito de trabalhar com lente de 300mm e poucas vezes sinto falta de 600 ou 800mm.

Qual seu diferencial?
Não sei. Talvez o jeito que eu vejo as coisas. Talvez seja o equipamento errado para determinadas situações. Ou talvez seja o meu jeito de ser, fazendo tudo da minha maneira, mudando a ordem certas das coisas para fazer os outros re-analisarem as regras.

Quantos livros ja produziu?
Ja produzi vários livros, mas pra ser publicado comercialmente apenas um. O titulo original é "Transcendendo Estereótipos", mas vai ser lançado com outro nome por uma decisão em conjunto com os editores.

Sobre o que trata o livro?
O livro "Transcendendo Estereótipos" é uma experiência visual e literária de um estilo de vida. Ilustrado com fotos de 300mm, explora o mundo do surf e o espírito artístico que envolve este esporte. Eu considero enigmático e inovador, que captura a essência da arte de surfar e as pessoas que fazem isso por amor.

Qual sua rotina de trabalho artístico? (Produção de camisetas, desenhos, poesia, fotos, textos para o blog).
Nenhuma rotina. A regra principal do movimento "Outra Cultura" é trabalhar sem regras. Mas, em termos de ritual, eu produzo quase tudo na calada da noite. Um bom vinho, boa musica ou as vezes simplesmente o completo silêncio.

UM LUGAR - Praia da Joaquina
UMA COR - Escura
UM SOM - Pesado
UMA IMAGEM - Sol e mar com ondas perfeitas
UMA FRASE - Enfrente o medo, pois atrás dele esta seu paraiso interior
UM SALVE - AVAI uh... AVAI uh... AVAI uh...
UM DIA - Vou morar em Floripa novamente e ver todos os meus amigos reunidos ao meu redor
TRÊS DESEJOS - Saúde, uma mulher, um filho.







(conheça mais sobre o trabalho de Alexandre Morelli através do blog outracultura-california.blogspot.com)

Um comentário: