sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Dê da Barra, descendo a ladeira


Texto publicado em dezembro 2008, site waves.com.br

No final de 2008, mais precisamente no último dia 29 de dezembro, o big rider catarinense Laudinei Neves embarcou para o Hawaii na expectativa de começar bem o ano. Dê da Barra, como também é conhecido, quer aproveitar o inverno havaiano, adquirir experiência e preparo físico para encarar o que vem pela frente.

Ele e seu parceiro de tow in, César Oliveira, estão no aguardo de um big swell para reiniciar os treinos nas bancadas de Phantons, Backyards e Revelethin, ideais para a prática desta modalidade. Dê optou por mais uma temporada no North Shore para estar mais próximo do campeonato que acontece na ilha de Maui até março, além de também aumentar sua capacidade pulmonar para resistir aos caldos pesados, proporcionais ao tamanho das ondas no Hawaii.

O atleta e seu parceiro também esperam por outro evento, o North Shore Tow In Contest, promovido pelo lendário Ace Cool. Outro objetivo da viagem é produzir imagens em foto e vídeo para revistas e arquivo pessoal.


Um dos projetos para 2009 é a produção de um filme sobre sua carreira. Imagens inéditas e antigas vão contar a história do big rider e relembrar momentos, como o dia 14 de novembro de 2004 na praia do Cardoso, Farol de Santa Marta, Sul de Santa Catarina. Na ocasião, Dê da Barra surfou a maior onda registrada e documentada no litoral brasileiro, captada pelas lentes do videomaker Marcos Dias. Uma onda estimada em cerca de 10 metros de face, que você pode conferir no vídeo ao lado.

O filme trará exclusivamente ondas grandes e surfadas ao redor do mundo, seja de tow in ou na remada. O preview do filme mostra alguns dos principais momentos do atleta em viagens como para o Chile, Jaws, Pipeline e Brasil, além de uma prévia com imagens inéditas na pororoca.

"Descendo a Ladeira" é o título do projeto e o roteiro prevê um retorno ao passado, com a participação de grandes nomes do tow in e novas buscas por ondas realmente grandes. O atleta conta com patrocínio da Confraria das Artes. Apoio: Restaurante Cirrus, Academia Forma, Lonelines Surfboards, Suco da Saúde, Tick Dek, H2O e Brasil Fins.

ASSISTA O VÍDEO

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Carnaval 2009


por Manu Scarpa
Já entramos em fevereiro, mês de uma das festas mais tradicionais no Brasil: o carnaval. Cada um curte a data da maneira que prefere. Uns gostam de festas e multidão, outros optam fugir de tudo isso. Mas tem gente que além de pensar no seu próprio divertimento e bem estar, pensa também no mundo que nos rodeia.

Por intermédio de um colega, tomei conhecimento de um trabalho muito bonito que une carnaval e preservação do meio ambiente. O músico, poeta e artista plástico Valdir Agostinho, figura querida e bastante conhecida em Florianópolis, busca a inspiração de seus trabalhos em algo que está bem diante dos nossos olhos: a cultura açoriana. Há mais de 20 anos ele é um reciclador preocupado com a limpeza e com o crescimento desordenado da nossa ilha. Entre suas criações, está a composição de fantasias de carnaval com materiais abandonados que antes iam para o lixo.

É um trabalho que transforma lixo em luxo, apresentado em concursos de fantasias no tradicional Baile Municipal no centro da cidade. Durante todos esses anos, Valdir destacou-se na categoria Originalidade, criando e recriando personagens com o lixo que encontra na beira da lagoa ou nas praias da região. Como a fantasia Rapariga Bonita criada em 1994, que reproduz uma velha conhecida dos manezinhos: a Maricota. Sacos plásticos, embalagens coloridas e pedaços de rede transformaram-se no cabelo da Rapariga; nylon de cadeiras de praia e pano de guarda–sol ganharam vida no vestido da boneca; de tampinhas plásticas surgiu um colar; e uma hélice de ventilador virou laço para enfeitar.

A Maricota é apenas um dos exemplos de uma vida inteira de dedicação. Para conhecer mais sobre esta arte que alerta, telefonei para a casa do Valdir. Foi uma conversa longa, eu queria saber o que ele estava preparando para este carnaval. Para minha surpresa, a conversa mudou de rumo. As fantasias já não são mais produzidas e os bailes já nem existem mais. O que debatemos foi justamente a extinção da cultura de Florianópolis, que antes se reconhecia nos clubes e em festas regionais.


Não era o que estava programado como tema da minha coluna, mas às vezes precisamos deixar a pauta de lado e abrir os olhos para novo. Esperava divulgar o belo exemplo de luta para manter nossa ilha sempre limpa, sem perder o bom humor. O bom humor resistiu a tudo, porém as mudanças na demografia de Florianópolis modificaram também a maneira de pensar do povo que vive aqui. A supervalorização do que vem de fora é uma das razões que ameaçam o desaparecimento da nossa cultura.

Mas o tema das fantasias continua pertinente, pois reforça a discussão de que reciclar é preciso, "é pra ontem". Até hoje o carnavalesco mais premiado da cidade ainda sai à cata do lixo abandonado nas belas paisagens, mas não ouve os mesmos aplausos dos tempos do carnaval. Foi preciso fazer arte com o que é desperdiçado para ser visto e chamar atenção para o problema. Enquanto isso, sacos cheios de lixo com capacidade para 100 litros são desprezados na Lagoa da Conceição, de origem ainda desconhecida. É preciso interesse, preocupação, fiscalização, respeito e principalmente amor para manter Floripa no status de paraíso. Valdir Agostinho faz a sua parte – hoje não mais no carnaval –, mas sempre transmitindo a mensagem de preservação da natureza e da cultura popular.