quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Carnaval 2009
por Manu Scarpa
Já entramos em fevereiro, mês de uma das festas mais tradicionais no Brasil: o carnaval. Cada um curte a data da maneira que prefere. Uns gostam de festas e multidão, outros optam fugir de tudo isso. Mas tem gente que além de pensar no seu próprio divertimento e bem estar, pensa também no mundo que nos rodeia.
Por intermédio de um colega, tomei conhecimento de um trabalho muito bonito que une carnaval e preservação do meio ambiente. O músico, poeta e artista plástico Valdir Agostinho, figura querida e bastante conhecida em Florianópolis, busca a inspiração de seus trabalhos em algo que está bem diante dos nossos olhos: a cultura açoriana. Há mais de 20 anos ele é um reciclador preocupado com a limpeza e com o crescimento desordenado da nossa ilha. Entre suas criações, está a composição de fantasias de carnaval com materiais abandonados que antes iam para o lixo.
É um trabalho que transforma lixo em luxo, apresentado em concursos de fantasias no tradicional Baile Municipal no centro da cidade. Durante todos esses anos, Valdir destacou-se na categoria Originalidade, criando e recriando personagens com o lixo que encontra na beira da lagoa ou nas praias da região. Como a fantasia Rapariga Bonita criada em 1994, que reproduz uma velha conhecida dos manezinhos: a Maricota. Sacos plásticos, embalagens coloridas e pedaços de rede transformaram-se no cabelo da Rapariga; nylon de cadeiras de praia e pano de guarda–sol ganharam vida no vestido da boneca; de tampinhas plásticas surgiu um colar; e uma hélice de ventilador virou laço para enfeitar.
A Maricota é apenas um dos exemplos de uma vida inteira de dedicação. Para conhecer mais sobre esta arte que alerta, telefonei para a casa do Valdir. Foi uma conversa longa, eu queria saber o que ele estava preparando para este carnaval. Para minha surpresa, a conversa mudou de rumo. As fantasias já não são mais produzidas e os bailes já nem existem mais. O que debatemos foi justamente a extinção da cultura de Florianópolis, que antes se reconhecia nos clubes e em festas regionais.
Não era o que estava programado como tema da minha coluna, mas às vezes precisamos deixar a pauta de lado e abrir os olhos para novo. Esperava divulgar o belo exemplo de luta para manter nossa ilha sempre limpa, sem perder o bom humor. O bom humor resistiu a tudo, porém as mudanças na demografia de Florianópolis modificaram também a maneira de pensar do povo que vive aqui. A supervalorização do que vem de fora é uma das razões que ameaçam o desaparecimento da nossa cultura.
Mas o tema das fantasias continua pertinente, pois reforça a discussão de que reciclar é preciso, "é pra ontem". Até hoje o carnavalesco mais premiado da cidade ainda sai à cata do lixo abandonado nas belas paisagens, mas não ouve os mesmos aplausos dos tempos do carnaval. Foi preciso fazer arte com o que é desperdiçado para ser visto e chamar atenção para o problema. Enquanto isso, sacos cheios de lixo com capacidade para 100 litros são desprezados na Lagoa da Conceição, de origem ainda desconhecida. É preciso interesse, preocupação, fiscalização, respeito e principalmente amor para manter Floripa no status de paraíso. Valdir Agostinho faz a sua parte – hoje não mais no carnaval –, mas sempre transmitindo a mensagem de preservação da natureza e da cultura popular.
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