terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

revista SOLTO #62

por Manu Scarpa


*foto joão barbosa


VIDA
Desde que se conhece por gente, Gustavo surfa. Filho do shaper e surfista catarinense, João Schlickmann, sua primeira prancha foi assinada pelo pai – e até hoje a tradição se mantém. Essa relação íntima entre pai e filho e, ao mesmo tempo, shaper e surfista, contribuiu muito para o seu desempenho como atleta e amante do esporte.

Gustavo mora com o pai na pousada da família, na Lagoa da Conceição. Natural de Florianópolis, ele cresceu surfando na praia da Joaquina entre os amigos que até hoje fazem parte das barcas em busca de ondas pela Ilha.

Em dias flat, vai dar um role de skate. É nesse esporte que busca inspiração para sua maior especialidade: aéreos. “Admiro os skatistas porque eles estão sempre tentando novas manobras sem medo de se machucar – já que o destino final é o concreto. É um esporte que me inspira muito, pois considero o aéreo a manobra mais próxima entre surf e skate. Gosto bastante do estilo do australiano Shane Cross e do colombiano David Gonzáles”. Entre os surfistas, o havaiano Bruce Irons e os amigos de infância são os principais motivadores para voar cada vez mais alto.

Floripa é um prato cheio para Gustavo. As ondas que a região oferece quase sempre favorecem suas decolagens. Outros picos como Riozinho e Naufragados são as cartas na manga quando quer encontrar tubos, sua segunda manobra favorita.


*Akiwas

COMPETIÇÃO vs. FREESURF
Desde que começou a competir, Gustavo Schlickmann teve boas colocações em campeonatos amadores pelo Brasil. No circuito WQS também fez bons resultados. Ficou em terceiro lugar no ProJr que aconteceu na praia do Santinho, em 2008; e este ano foi destaque na Califórnia ao vencer uma competição de aéreos em San Diego.

Durante sete anos participou de campeonatos com frequência, dos 12 aos 19. Hoje, aos 22 anos, vive como freesurfer profissional. Patrocinado pela Volcom há 11 anos, ele recebeu todo o apoio para abandonar as competições e viver livre como surfista. Desde que parou de competir, Gustavo acredita que ficou mais fácil perceber o real significado de surfar. “Consigo aproveitar melhor a vida e ver claramente o que me fez gostar tanto desse esporte”.

Mesmo sem definir o que pretende para o futuro, ele faz de tudo um pouco sempre dando o seu melhor. “Apesar de sentir que a adrenalina das competições corre nas minhas veias, sinto que nunca consegui mostrar o meu melhor. Às vezes, depois de não me encontrar em nenhuma onda e perder uma bateria, faço a melhor sessão de todos os tempos na vala ao lado”. O circuito WQS ainda brilha em seus olhos, mas é preciso uma estratégia para viabilizar todas as viagens e competir o maior número de eventos.

Para ele, a principal regra de um freesurfer é sempre estar acompanhado de um bom filmaker para registrar tudo. “Imagina se eu faço a manobra da vida e ela não foi registrada?”.



MÍDIA
Após uma rápida visita pelo seu site é possível constatar que Gustavo Schlickmann é destaque na mídia desde muito pequeno. Aos nove anos de idade as revistas e jornais já apostavam no futuro do garoto promissor.

Aos 12 anos, participou da sessão “Pirralhos” na revista Fluir. Ele foi crescendo e aparecendo cada vez mais em diversos jornais e revistas pelo país. O ano 2009 foi muito importante na sua carreira. Teve um bom destaque na mídia ao estampar a capa da revista Fluir no mês de julho, com uma foto de Daniel Smorigo, em Ubatuba, durante uma barca com a equipe da Nike 6.0. Ainda na mesma edição, ele apareceu em página dupla numa seqüência de um aéreo cabuloso.

A lista de revistas com suas fotos publicadas é grande. Hardcore, Blackwater, Solto, Juice, Venice, jornal Drop e por aí vai. Além das imagens estáticas, Gustavo fez algumas participações em filmes nacionais, como o Lombrô 3, do carioca Rafael Mellin, e QUE!ISSU?, do também carioca Gustavo Camarão.

Seu grande destaque nas telonas foi no filme Sincronia, que produziu em parceria com o catarinense Bruno Bez. Quando parou de competir, Gustavo aproveitou para filmar cada vez mais. Aos poucos foi juntando imagens que renderam seu primeiro filme como protagonista. Ele divide algumas cenas com os surfistas Ricardo Wendhausen, Guilherme Tranquilli, Marcelo Cathcart, Yuri Castro, Diego Rosa, Tiago Bianchini, Wellington "Gringo", Rodrigo Generik, Daniel Cortez, Daniel Kuerten e Fernando Moura.


VIDEO EDITING
Desde criança os filmes de surf o deixavam maluco. Sua relação com produção de vídeo ganha cada vez mais espaço na sua vida. Um exemplo disso foi quando participou da triagem do projeto Innersection, do famoso diretor Taylor Steele. Gustavo fez novamente uma parceria com o amigo Bruno Bez e formaram uma das milhares de duplas que enviaram videoclipes para compor um filme de Steele.

Mesmo não sendo selecionados, este foi um importante passo nesse competitivo mercado. “Por conta das inúmeras viagens, tanto minhas como do Bruno, fizemos a edição em cima da hora. Conseguimos enviar nosso material no último minuto do último dia. Mas o que realmente importa é que nosso vídeo foi assistido por uma lenda mundial quando o assunto é filmes de surf”, avalia.

Produzir imagens é um bom motivo para qualquer freesurfer viajar. O interessante é que além de ser foco das lentes de foto e vídeo, Gustavo descobriu uma nova paixão: editar vídeos. Uma atividade que começou como brincadeira entre amigos para auto-analisar seu estilo de surfar, virou coisa séria com o passar dos anos. Durante toda a entrevista, Gustavo deixou rolar de fundo sua mais recente conquista em 2010: o filme Hypnotized. O vídeo é um resumo das últimas viagens que fez, quase todas nesse ano. Na sequência, Brasil-Califórnia- Nicarágua-Indonésia-Brasil. Além de algumas cenas filmadas em 2009, no México.

Ele surfou e editou em parceria com Marcelo Cathcart e o trailer já está disponível na Internet. Nas ondas filmadas no Brasil, várias sessions tem a participação dos amigos de infância que também compõem o Sincronia. James Santos e Fernando Fanta agregaram ainda mais valor às imagens captadas na Indonésia.

*Jõao Barbosa

VIAGENS
E por falar em viagens, sempre uma é eleita a mais especial. “Minha primeira trip para Indonésia foi uma experiência única, dois meses no total. Além de surfar altas ondas, aprendi a dar valor para todas as coisas que tenho”.

Morou também na Austrália e já esteve em três temporadas havaianas. No roteiro das próximas aventuras estão lugares exóticos como o Marrocos, Nova Caledônia e Micronésia, sempre em busca de novas culturas, menos crowd e ondas boas.

Quando a pergunta é onde mais gosta de surfar, Gustavo nem pensou antes de dar a resposta. “Em casa!”. E isso significa Floripa e Santa Catarina como um todo, pois não descarta picos como a Guarda do Embaú, Garopaba e Imbituba.


TRICKS & FREAKS
Desde que parou de competir, parou também de treinar para agradar os juízes. O foco agora é somente na evolução das diferentes manobras que vão surgindo na cabeça. “Antes eu me preocupava em fazer um surf de linha. Hoje até esqueço das rasgadas e cutbacks, quero mesmo é pegar velocidade e voar cada vez mais alto”, revela. Essa, aliás, é uma das especialidades de Gustavo. O famoso aéreo rodando ele faz até de olhos fechados.

A manobra que considera mais difícil é sempre aquela que está praticando no momento. Para ele, tudo é uma questão de prática até se tornar fácil. “Estou sempre com uma manobra no pé. No momento estou treinando o Big Spin, como também é chamada no skate. A diferença é que ao invés de aterrizar com a rabeta, você aterriza com o bico já na base trocada”, explica. Entendeu?