Matéria publicada na revista LEVEL #02, outubro 2010
Textos :: Manu Scarpa
Fotos :: André Gemmer
O cerrado brasileiro possui diversas formações vegetais, centenas de nascentes e cursos d'água e rochas com mais de um bilhão de anos. Essa riqueza biológica, localizada no centro-oeste do país, sofre constantemente com as queimadas durante o período de seca no inverno. Em busca de liberdade, paz e contato com este frágil ecossistema, o estudante de Florianópolis André Gemmer planejou uma viagem para a Chapada dos Veadeiros como tema do seu trabalho de conclusão de curso. O que era para ser mais uma pesquisa de universidade resultou em uma inesquecível experiência de vida.
Localizada ao norte do cerrado goiano (cerca de 230km de Brasília), a Chapada dos Veadeiros é o mais antigo patrimônio geológico da América do Sul. Formada há 1,8 bilhão de anos, a região quase sempre está no roteiro dos amantes do ecoturismo e impressiona os visitantes com uma beleza singular. Para preservar o local e regularizar o acesso de turistas e exploradores, em 1961 foi criado o "Parque Nacional da Chapada", localizado parte no município de Cavalcante e parte em Alto Paraíso, ambos no Estado de Goiás. Em 2001, o Parque foi declarado Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO.
O cerrado é o segundo maior bioma brasileiro e estende-se por oito estados do Brasil central. Com solo deficiente em nutrientes e rico em ferro e alumínio, abriga plantas de aparência seca, mas a presença de três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul favorece sua biodiversidade. Cachoeiras, rios, piscinas naturais, montanhas, canyons, minas de cristal e cerca de três mil espécies de plantas fazem parte desse santuário ecológico localizado a 1.600 metros de altitude. Animais em extinção como o veado-campeiro, o lobo-guará, a ema e o tucano de bico-amarelo são exemplos da fragilidade da natureza neste local.
O clima seco do último inverno provocou o alastramento de incêndios no cerrado, comuns nessa época - embora nem sempre por causas naturais. O forte calor na região alcançou 38˚C e em alguns locais foram mais de três meses sem chover. A chamada “combustão espontânea” é aceita como justificativa para o fogo que destruiu boa parte da vegetação neste ano, mas o descuido e o descaso ainda são os principais fatores que colocam em risco esta delicada vegetação brasileira. A técnica das queimadas ainda é a maneira preferida de preparar a terra para a agricultura e sua prática é bastante discutida. O fato é que o fogo sem controle devastou uma grande área da Chapada dos Veadeiros e este é um alerta para a preservação urgente do local.
EXPEDIÇÃO
O estudante de Mídias Eletrônicas, André Gemmer, saiu de Florianópolis com destino ao cerrado brasileiro para desenvolver seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). A idéia era registrar em foto e vídeo as belezas do lugar, que ficou na memória de André desde sua primeira visita a Chapada dos Veadeiros em 2009. Durante 25 dias ele explorou a região através de suas lentes e conheceu pessoas que mudaram sua vida para sempre.
O que te motivou para fazer a viagem?
A vontade de produzir conteúdos audiovisuais relacionados ao meio ambiente, além de toda a tranquilidade que a natureza nos oferece como refugio do dia-a-dia da cidade. Desde 2009 tive a certeza que voltaria lá com uma filmadora e uma máquina fotográfica para registrar tamanha beleza natural na região central do Brasil.
O que foi diferente dessa vez?
Por eu estar fotografando e filmando tudo, observei e curti cada detalhe, desde a natureza como os próprios moradores da região. Fiz muitas amizades e fui muito bem recebido. Visitei locais que somente os nativos tem acesso. Foi uma experiência única, quero voltar diversas vezes.
Você produziu um pré-roteiro antes de viajar. O que manteve e o que mudou?
Fiz um breve roteiro com a idéia de onde iria em cada dia, porém quando cheguei lá tudo mudou. Estava acontecendo o X Encontro Cultural da Chapada dos Veadeiros, o que me fez mudar um pouco os planos para conhecer a cultura local. Além disso, no meio do caminho surgiu a idéia de fazer um documentário falando sobre questões ambientais como forma de conscientizar a população sobre a interação do ser humano com a natureza.
Você está sozinho nessa produção multimídia?
A produção multimídia na Chapada começou comigo, porém não é fácil fazer isso sozinho. Meu amigo Marcelo Leão, também parceiro em projetos paralelos, não pode participar da etapa da viagem, mas está dando uma força no trabalho de pós-produção. Além dele, muita gente colaborou. Minha namorada Fabricia fez quase todo o percurso comigo e uma amiga canadense que conheci durante a viagem está me ajudando a produzir o texto para o documentário.
Como formando do curso de Mídias Eletrônicas, como esse projeto te acrescenta?
Vejo como uma grande porta que está se abrindo para meu futuro profissional. Através dele quero desenvolver outros projetos com foco ecológico e tudo que envolve natureza e ser humano de forma harmoniosa.
Como você avalia o retorno do público?
O retorno começou ainda na Chapada, quando as pessoas demonstravam bastante interesse em saber o que eu estava fazendo com tantos equipamentos. O fato de estar produzindo um projeto com foco nas questões ambientais envolveu a comunidade local de forma bem positiva. Consegui estadia e alimentação na Vila São Jorge e todos já me conheciam como "o cara do filme". Quanto retornei para Florianópolis depois de 25 dias de viagem meu blog já registrava quase 13 mil visitas. Foi uma surpresa para mim.
Como você resumiria essa viagem?
Em quatro palavras: natureza, liberdade, amizade e paz. Aprendi muito, conheci muita gente. Uma experiência incomparável e única que me mostrou ainda mais o valor desses quatro elementos.
Alguns incêndios afetaram a região no inverno deste ano. Você que esteve por lá com um olhar mais atento, o que tem a dizer sobre isso?
Tenho acompanhado através da TV e da Internet, converso semanalmente com o pessoal de lá por e-mail e realmente é uma situação alarmante. Essa época do ano é muito seca, o clima é desértico com forte calor durante o dia e muito frio durante a noite. Os incêndios são queimadas que saíram do controle, provocadas pela ação do homem. Mas também faz parte do ciclo natural da região. Os cristais presentes nas rochas refletem o sol que queima pequenos galhos secos, o que resulta em grandes incêndios. Esse ano as queimadas estão muito mais intensas. É a natureza dando sinais de que é preciso respeitá-la.
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
O SKATISTA ARTEIRO :: Marcelo Barnero
texto publicado na revista SOLTO #61, novembro 2010
por Manu Scarpa
artwork Marcelo Barnero
>> leia a entrevista completa
O olhar tranquilo dos pássaros que o paulista Marcelo Barnero desenha é resultado de tudo o que acontece ao seu redor. Livre como um pássaro, ele expressa com pincel e muitas cores aquilo que coloca no liquidificador chamado cabeça. Desde 2005 Barnero se dedica a perseguir um dos dons que recebeu como presente, a arte de desenhar. Seus mestres, os elementos da natureza. Sua mensagem, levar bons sentimentos aos que param para apreciar o que ele tem para transmitir.
Sua primeira exposição aconteceu no final de 2007, em Florianópolis. Para além das galerias, Barnero também leva seus pássaros para o meio da rua. Geralmente ele reforma algum ponto deteriorado usando arte. Pode ser um muro, um orelhão, um fusca. Seu mais novo desafio é a pintura das paredes e da pista de skate na pousada Hi-Adventure, famoso bowl em Floripa que recebe importantes campeonatos. Marcelo Barnero divide a responsabilidade desta obra com o artista plástico Paulo Gouveia. Com seu estilo bem característico, Paulo vai retratar os personagens que fazem parte da história da pista e Barnero vai completar com seus pássaros e cores vibrantes. O projeto é grandioso, é como se cada um pintasse vários quadros em uma só grande tela. A promessa deles é entregar a pista pronta até o verão.
A relação da sua arte com o skate é uma associação natural. Ele desenha desde pequeno e aos 14 anos começou a andar sobre quatro rodinhas. Foi skatista profissional até a metade dos anos 90, viajando por todo o Brasil fazendo apresentações - na época bem mais comuns que a realização de campeonatos. Para ele, além de um esporte o skate também é um exercício de criatividade. Em cada manobra, cada shape, em cada estilo de se vestir, uma forma de expressão. Cursou Design Gráfico em Sao Paulo e trabalhou no departamento de criação de diversas marcas de skate. O bom relacionamento ainda rende alguns trabalhos para antigos clientes, mas no momento direciona toda sua atenção aos desenhos que cria diariamente, às vezes vários ao mesmo tempo.
Florianópolis foi paixão à primeira vista e desde 1997 Barnero escolheu a Ilha para viver e pintar. Tem quadros pendurados nas paredes da Austrália, Polônia, Finlândia, Canadá e Japão. Mas os planos para viajar e expor seu trabalho começam em 2011. E assim o skatista com alma de arteiro segue desenhando exatamente o que gostaria de ser: um pássaro mensageiro da paz e da alegria.
Para conhecer mais sobre o trabalho de Marcelo Barnero, acesse: www.myspace.com/marcelobarnero
por Manu Scarpa
artwork Marcelo Barnero
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O olhar tranquilo dos pássaros que o paulista Marcelo Barnero desenha é resultado de tudo o que acontece ao seu redor. Livre como um pássaro, ele expressa com pincel e muitas cores aquilo que coloca no liquidificador chamado cabeça. Desde 2005 Barnero se dedica a perseguir um dos dons que recebeu como presente, a arte de desenhar. Seus mestres, os elementos da natureza. Sua mensagem, levar bons sentimentos aos que param para apreciar o que ele tem para transmitir.
Sua primeira exposição aconteceu no final de 2007, em Florianópolis. Para além das galerias, Barnero também leva seus pássaros para o meio da rua. Geralmente ele reforma algum ponto deteriorado usando arte. Pode ser um muro, um orelhão, um fusca. Seu mais novo desafio é a pintura das paredes e da pista de skate na pousada Hi-Adventure, famoso bowl em Floripa que recebe importantes campeonatos. Marcelo Barnero divide a responsabilidade desta obra com o artista plástico Paulo Gouveia. Com seu estilo bem característico, Paulo vai retratar os personagens que fazem parte da história da pista e Barnero vai completar com seus pássaros e cores vibrantes. O projeto é grandioso, é como se cada um pintasse vários quadros em uma só grande tela. A promessa deles é entregar a pista pronta até o verão.
A relação da sua arte com o skate é uma associação natural. Ele desenha desde pequeno e aos 14 anos começou a andar sobre quatro rodinhas. Foi skatista profissional até a metade dos anos 90, viajando por todo o Brasil fazendo apresentações - na época bem mais comuns que a realização de campeonatos. Para ele, além de um esporte o skate também é um exercício de criatividade. Em cada manobra, cada shape, em cada estilo de se vestir, uma forma de expressão. Cursou Design Gráfico em Sao Paulo e trabalhou no departamento de criação de diversas marcas de skate. O bom relacionamento ainda rende alguns trabalhos para antigos clientes, mas no momento direciona toda sua atenção aos desenhos que cria diariamente, às vezes vários ao mesmo tempo.
Florianópolis foi paixão à primeira vista e desde 1997 Barnero escolheu a Ilha para viver e pintar. Tem quadros pendurados nas paredes da Austrália, Polônia, Finlândia, Canadá e Japão. Mas os planos para viajar e expor seu trabalho começam em 2011. E assim o skatista com alma de arteiro segue desenhando exatamente o que gostaria de ser: um pássaro mensageiro da paz e da alegria.
Para conhecer mais sobre o trabalho de Marcelo Barnero, acesse: www.myspace.com/marcelobarnero
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