Um estudo concluído em 1993 pelo cientista e professor John Anthony Allan modificou a forma de encarar o consumo de água no mundo. John descobriu a fórmula matemática que calcula a quantidade de água utilizada para produzir qualquer alimento ou produto. Cada quilo de carne de boi, por exemplo, necessita de 15 mil litros desse precioso líquido para chegar até o consumidor final - considerando transporte, comércio, entre outras etapas do processo; para fabricar um litro de cerveja, lá se vão oito litros de água; e cada quilo de jeans utiliza em torno de 10 mil litros.
Com a descoberta, John Anthony recebeu o Stockholm Water Prize 2008, promovido anualmente pelo Instituto Internacional da Água de Estocolmo. Com a preocupação de que a escassez de água tem como consequência a escassez de alimentos em todo o planeta, o instituto visa ordenar o uso da água em um futuro próximo. Outra conclusão importante do estudo é que países como Brasil, Argentina e Estados Unidos exportam milhões de litros de água, enquanto Japão, Itália e Egito importam o que John chamou de "água virtual".
Mas a expressão "água virtual" (também chamada como "água embutida" ou "incorporada") já é conhecida, surgiu na década de 70 nos Estados Unidos. Do latim, virtual ou virtualis ou ainda virtus, que significa virtude, potência e força. O mercado internacional de água virtual implica na movimentação de 15% de toda a água usada no mundo. Este consumo antes despercebido, agora é contabilizado. Por detrás daquela saborosa xícara de café, 140 mil litros de água foram consumida para cultivar, produzir, empacotar e distribuir o produto final. Para ter uma breve idéia, um cidadão norte-americano utiliza mais de seis mil litros de água virtual por dia.
É preciso amadurecer os conhecimentos sobre a quantidade de água imbutida nas produções. Ela é componente essencial para muitas empresas, direta ou indiretamente. Abrir mão de utiliza-la é como decretar falência. No setor de bebidas, por exemplo, três galões de água participam da produção de apenas um litro de refrigerante, leite ou cerveja. De um modo ou outro, as empresas terão que encarar a redução de água em suas rotinas para não fechar as portas. O alerta é ainda mais urgente que o problema da possível falta de energia no futuro. Com a criatividade, o ser humano já encontrou diversas soluções através das energias renováveis. Com a água é diferente, trata-se de um recurso finito.
Considerando o fato de que o volume de água doce e limpa disponível no mundo representa menos de 1%, pequenas ações tem poder transformador. Segundo o Instituto AKATU Pelo Consumo Consciente, se um milhão de pessoas fechassem a torneira ao escovar os dentes, economizariam em um mês 12 minutos de vazão das Cataratas do Iguaçu. Um banho de ducha com duração de 10 minutos gasta em média 160 litros de água. Se desligar o chuveiro ao ensaboar, são 30 mil litros poupados em um ano.
Os exemplos de consumo são muitos e as soluções para reaproveitar e economizar, também. A chuva, devidamente acumulada e tratada em regiões com grande índice pluviométrico, poderia suprir perto de 100% da água de um lar. Ou ainda o esgoto, se tratado, poderia substituir cerca de 40% da água potável. É preciso tornar essas práticas aplicáveis no cotidiano de quem vive nas cidades. E é apenas o começo. ECOnomize.