sábado, 13 de setembro de 2008

Um pedacinho de terra...


Texto publicado em agosto 2008 revista JUICE #28

O cenário mudou bastante. Há exatos 40 anos uma empresa iniciava o processo de ocupação em massa na cidade de Florianópolis. Em 1968, a ELETROSUL Centrais Elétricas S.A., trazia uma nova vitalidade para a ilha com a vinda de pessoas de outros estados - principalmente Rio de Janeiro - para trabalhar por aqui. Pouco tempo depois, quando a ponte Hercílio Luz já não suportava sozinha o fluxo de carros, iniciaram as obras do aterro da Baía Sul para permitir o acesso à uma nova ponte. Em fevereiro de 1975 foi inaugurada a Ponte Colombo Sales. Antes do aterro, a parte central da cidade onde se localiza o Terminal Rodoviário Rita Maria, o Terminal Integrado do Centro (Ticen) e Passarela Nego Querido, era ocupada pelo mar.

Muitas transformações ocorreram e a maior parte delas por necessidade. A cidade estava crescendo e naquele tempo não era possível prever de que forma isso afetaria a qualidade de vida dos moradores no futuro. O morro onde hoje existe o túnel que facilitou o acesso do centro ao sul da ilha, por exemplo, antes era coberto por árvores de flamboyans amarelos. Hoje o que se vê são casebres de ocupações irregulares.

Os mais velhos contam que era possível deixar o carro com os vidros abertos o dia todo por causa do calor, que nada acontecia. Era comum acampar nos camping da praia do Santinho, onde hoje casas e pousadas tomaram conta. Pouco mais de vinte anos atrás, a Praia Brava contabilizava duas ou três pequenas construções e nenhum asfalto. Hoje a vista para o mar de uma das mais belas praias da ilha é privilégio para poucos.


Capital do Estado, rodeada por água e recheada pela natureza, é compreensível que todo esse processo de crescimento aconteça. É quase inevitável. O problema é a falta de planejamento e consciência ambiental que acompanha o "desenvolvimento" da nossa ilha. A cada novo prédio que se levanta, são aproximadamente 50 novos carros circulando pelas ruas. É assustador só de pensar. E agora isso é uma realidade que precisa ser encarada por todos aqueles que acreditam que preservar é o caminho para que Floripa continue no status de paraíso.

Iniciativas poisitivas já apontam neste sentido. Mais uma vez a Praia Mole foi alvo de manifestações e alertas sobre especulações imobiliárias. Desta vez a corda está no pescoço do Dragão. No dia 27 de julho, cerca de 500 pessoas participaram de atividades para mobilizar sociedade e poder público contra a construção de uma pousada na Ponta do Gravatá, costão direito da praia, onde as pedras e o morro desenham o formato de um dragão. Os especuladores se defendem dizendo que nada será construído dentro do que está protegido pela legislação. Legal ou não, a população não quer ver alterado o cenário de uma das poucas praias ainda preservadas.

O movimento S.O.S Gravatá, criado especialmente para defender essa questão, realizou um dia inteiro de atividades para atrair a atenção para o problema. Pela manhã, foi realizado um campeonato de surf por equipes com atletas profissionais, amadores e freesurfers de Santa Catarina. A praia mole mostrou seu poder e, apesar da formação não estar pefeita, o mar proporcionou bons momentos com ondas de até dois metros. Destaque para André Barcellos e Davi de Jesus que droparam as maiores.


Na parte da tarde, os manifestantes promoveram uma passeata ecológica por trilha até o morro do Gravatá, com mostra de inscrições rupestres. Para fechar o evento, no fim do dia o público curtiu o som das bandas locais Dazaranha, Expedição, Pure Felling e Da Madeira. A organização do movimento criou um site na internet para reforçar esta luta (www.sosgravata.org). A nossa torcida é pelo verde.

texto Manu Scarpa
fotos Marianna Piccoli
01 onda solitária Praia Mole
02 André Barcellos
03 Davi de Jesus

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