sexta-feira, 13 de junho de 2008

Permacultura é PAZ


(Publicado na revista JUICE #26, abril 2008)

Quando observamos o planeta Terra de um lugar suficientemente alto, de onde não somos capazes de identificar os objetos, podemos ver na superfície uma parte coberta por água e outra por terra. As linhas que observamos lá de cima são apenas as dos rios e estradas. O que determina o limite de um bairro, cidade, estado ou país são divisões imaginárias criadas pelo homem. Essas delimitações que já encontramos prontas desde que nascemos refletem o conceito de posse: tal parte do planeta pertence a tal nação. Intrigado com a maneira individualista de viver do ser humano, que no final da Segunda Guerra Mundial um agricultor japonês chamado Miyozo Yamaguishi pensou em uma sociedade igualitária, mas por opção de todos e não por imposição. Para Yamaguishi, viver em paz é respeitar o próximo e suas vontades, mesmo que este próximo seja um elemento da natureza.

Ainda que seja difícil se imaginar morando em um lugar assim, muitas pessoas já optaram por esse modo de vida em várias partes do mundo, uma vida sem fronteiras. Tudo é de todos e todos trabalham pelo bem comum. Nas vilas Yamaguishi a hierarquia passa longe. O dinheiro arrecadado com a venda dos produtos cultivados na vila vai para um caixa único que é administrado por todos os integrantes. Cada um tem a consciência que se pegar demais para si vai faltar para o outro. Mas isso não significa que as pessoas são padronizadas e que devem vestir a mesma roupa ou comer a mesma comida. Até porque uma sociedade que padroniza seus membros é uma sociedade que escraviza.

Alguns anos depois do agricultor japonês propor suas idéias para a paz mundial, dois ecologistas australianos reinventaram uma solucação para sustentabilidade, a permacultura. No início dos anos 70, Bill Mollison e David Holmgreen começaram a desenvolver a simples idéia de que não somos seres superiores na natureza e que só temos o direito de interferir nela quando existe uma necessidade clara de subsistência.

Quase 40 anos após as primeiras noções de permacultura serem discutidas, nem mesmo seus criadores conseguem definir seu significado exato. Não se trata de uma palavra dogmática, de uma verdade absoluta que não pode ser mudada. A definição foi evoluindo com o passar dos anos e hoje podemos dizer que permacultura vai muito além da contração das palavras permanente e cultura. Tudo que leve à criação de ambientes produtivos, saudáveis, ecológicos e que habitam a Terra sem destruir a vida está dentro do conceito de permacultura.

Um erro muito comum é pensar que para aplicar as práticas permaculturais é preciso viver no campo, afastado das grandes cidades. É justamente lá que está concentrada a maior parte dos problemas ambientais que enfrentamos. Reciclar é uma ótima maneira de ser um permacultor, pois economiza energia, espaço para aterros sanitários e dinheiro. Reaproveitar a água da chuva por meio de cisternas também é permacultura. Em Cuba, o governo recolhe os resíduos orgânicos como cascas das frutas e os devolve em forma de terra de primeira qualidade para quem deseja ter uma horta em casa, isso também é permacultura. O mundo é um só e se o seu vizinho desperdiça água ou energia, todos perdem.

Não é preciso fazer as malas e largar tudo para viver em um sítio. Pequenas ações podem ser realizadas em qualquer espaço e tudo aquilo que freie o consumismo já faz a diferença. Ninguém quer cessar o poder criativo do homem, mas sim usar essa criatividade para buscar uma maneira de reduzir e, quem sabe um dia, exterminar por completo a palavra lixo.

Texto: Manu Scarpa
Foto: Clarissa Caterina

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